segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Reencarnação de Sarai


Carlos e Júlia eram casados há sete anos e a esterilidade de Julia condenou o casal a um lar sem filhos. Fato que fazia com que todo sabado de lua cheia Carlos soprasse no ouvido de Julia a idéia da adoção. Julia rejeitava, passou a ir a igreja para pedir a deus de volta o que ele havia lhe roubado. Mas o útero de Julia era podre, infestado de vermes que se alimentavam do esperma de Carlos e criança nenhuma havia de crescer ali. Júlia nutria uma fé infudada de ser mãe e pouco a pouco se afundava em sua obcessão. 

Precisava deslocar a culpa que caia sobre sua cabeça para o Carlos e danou a trair o marido de forma a tentar com todos os paus da cidade uma semente que germinasse. Os homens gozavam litros dentro de Julia e nada crescia dentro dela. O desespero em vomitar uma criança de suas ancas fazia com que Julia não negasse sua boceta uma vez sequer. A mulher imaginava uma criança diferente para cada homem que lhe visitava, ao ponto de ter sido mãe de várias crianças que jamais cresceram ou mesmo existiram. Julia chorava não pela dor da menstruação, mas por ser essa uma prova de que continuava seca. 

Sua loucura mantinha viva uma esperança que provou merecer ser preservada quando Carlos viu a barriga da mulher crescer durante cinco meses e não mais que isso. Nesses dias Julia sofreu um aborto enquanto caminhava nas ruas e expulsou de dentro dela uma criança morta. Em desespero e negação tentava empurrar a todo custo aquilo de volta para si. Chorava no chão com as mãos ensanguentadas a dor de ser amaldiçoada enquanto a multidão se amontoava em volta e fotografava com seus telemóveis o ápice da sua desgraça.  

domingo, 20 de janeiro de 2013


Eu iria contar como me derreto com aquele sorriso, mas estou decidido a parar de contar essas coisas de amantes senão toda a gente vai pensar que estou apaixonado. Não que eu não esteja, mas não preciso que todos saibam disso. Mulher que é assim de ficar rabiscando o nome do namorado na cabeceira do caderno. Homem não faz essas coisas. É duro e não doce, salvo quando está a meter-se na boca de alguma rapariga ou rapaz que nasceu com o bixo dentro de si.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Casa Limpa (04)


Todas as coisas têm um outro lado com a mesma intensidade. Se ontem sentia que iria explodir de insegurança, hoje eu me sinto nas mãos de deus como diriam os crentes. É uma mistura de antônimos que borbulham no estomago. Um sal de frutas não resolveria. Deixei morrer os anticorpos que eu tinha pra pessoas ou eles não o julgaram como um corpo estranho. Tenho andado em parafios.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Casa Limpa (03)


Tenho cá esse aperto que vem e mastiga alguma coisa dentro de mim e eu me contorço em dúvidas porque os detalhes é que decidem o meu humor. A paixão que evito chamar de amor pela recência dos fatos me completa e me desmancha. Tomado por neuroses ameaço deitar o corpo da janela do segundo andar porque pontes ainda me metem medo e é ai que ele vem e me puxa de volta com a intenção de um beijo. Eu ando pelos parafios com os braços esticados vinte e quatro horas por dia. A insegurança da reciprocidade graças ao que anda na boca de todos - sobre gostar só de quem não gosta da gente e eu gostar desse cara.