sábado, 30 de junho de 2012

Histeria coletiva nos levaria a contos de fadas


Somos invisíveis, podemos fazer qualquer coisa. Não ouça quando te dizem para. Histeria coletiva nos levaria a contos de fadas. Você pode dançar no meio da rua se estiver escutando música. Nunca desligue a dança de uma pessoa. Dance com ela, dance comigo. Chame um amigo para dançar se estiver escutando uma música. Invente uma coreografia. Não resista. 

Há um arco-íris no céu e você não mostrou pra ninguém ainda. Olha que lindo. Vê todas essas formigas e deixe-se levar. Elas estão te carregando no meio do jardim e você está se divertindo como nunca. Pare por três segundos respire fundo e corra com toda sua força em direção a um lugar alto então salte. Dê um grito, erga os braços acredite que você é um pássaro e então pouse, pouse no chão com os joelhos dobrados. Ouça os aplausos, você é um homem voador. 

Descubra seu super-poder e mantenha sua identidade secreta.  Feche os olhos no cruzamento e identifique todos os sons, se nenhum carro cantar mantenha os olhos fechados e atravesse a rua. Sinta a adrenalina nas suas veias.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ato 04: Festa intima para três

Estou no centro e eles estão girando em torno de mim. Estava deitado na cama e ela veio fazer amor. Viu homens loucos por caralhos e mulheres que se arranhavam com outras. Estavam todos bem vestidos, mas ela não quis ouvi-los. Desliga agora. Quebro tudo, mato você. Cruzei a porta com a sacola nas costas e de repente já não existia. Ela corria atrás de mim enquanto um homem a seguia. O som das bombas me assusta e eu volto a mamar seu peito materno. Do quarto fechado caçam-se objetos cortantes, mas só tem papel e tinta presa na caneta. Adormeço entre espumas e lençóis. Acordo assustado tremendo de medo. Eu vi nos sonhos o telhado desabando junto com a face de desespero estampado na cara das pessoas que gritavam pela vida. Os deuses me mostraram quando eu ainda estava na minha cama aquecida, sonhando. Eu vi nos sonhos o choro das pessoas antes do telefone tocar. Eu morei na rua, debaixo de uma barraca. Infiltrava-me debaixo de um teto de verdade algumas noites,mas de manhã fugia antes que os homens armados chegassem. Escorregando pelas ruas, cruzando vielas. Acordei com lanternas na cara e tive que ir embora pra outro lugar. Eu vi o farol do carro vindo em minha direção quando ainda estava na calçada. Estive contando moedas e faltam muitas para que eu saia das ruas. Eu vi tudo nos sonhos e acordei no meu quarto preocupado com o mês de julho. Talvez eu caia no próximo minuto. Mas não sei para que lado. Não vejo homens e mulheres fazendo apostas. Pra eles nada acontece. Não viram de sua cama o que vi. Mas agora ninguém vai ver. Ninguém vai me ver chorar. Eu suportei ver o fim do mundo de cima do meu colchão velho e tive que contar para alguém. Os cavalos não parecem estar cansados e o Pastor pensa que sou Louis Lane. Mas só eu sei a verdade, ele não é o super-homem e eu não sou sua puta. Eu não sou dessas pessoas, nem desse mundo. Eu vim do futuro e do passado estou a frente e atrás, comendo e sendo enrabado.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ato 03: Julho fica mais próximo a cada manhã

O galo me acordou as três da manhã para conversar com os deuses vestidos de diabo. Não trouxeram noticias boas ou ruins, vieram apenas me assustar. Meus olhos estão arregalados e há duas carruagens vindo em minha direção.


domingo, 10 de junho de 2012

Ato 02: São nossas as lágrimas

O mundo esta se fechando. Você não esta fazendo nada. Esta traçando rotas de fuga enquanto sua mãe lhe visita. Diga algo ou mude para um hospício. Hoje é dia dois, parece um bom dia para matar alguém. É você o reflexo do espelho. Apenas faça. Gaste seu dinheiro em passagens de volta para casa. Eu estou regressando e o mundo está estranho. Estou grifando as mudanças, elas são tantas. Melhor não cortar o pescoço hoje. Hoje é dia três, parece um bom dia para matar alguém. Sua mãe esta na sala e suas malas estão prontas. Termine de amolar a faca e vá até ela. O corte é em você, mas é sua mãe que chora. A culpa não é das drogas. A culpa não é das camisinhas. A culpa é sua. O que você pensa que está fazendo dizendo essas coisas. Esse é o seu pulso, não o corte. Não diante de sua mãe. Ela está chorando e não esta dormindo, mas quem esta morrendo é você. Hoje é dia sete, parece um bom dia para matar alguém. É a voz de sua mãe que esta do outro lado da linha. Ela esta vindo para lhe cortar com uma faca. E você continua seguindo em frente. Sem mais nada acreditando ser feliz. Porque carregam essas tochas? Quem são esses? Pergunte a sua mãe. São todos Pilatos e é você quem vai para cruz. As flores nasceram e trouxeram alguns espinhos. Hoje é dia nove, parece um bom dia para matar alguém. Na porta sua mãe bate e você a deixa entrar. O sofá de sua casa é o purgatório e você é o réu. O juiz esta com a bíblia na mão e pronto pra lhe enviar para o inferno. Você já conhece a sentença. O sangue na mesa é seu. Aceite o seu papel nesse show de horror. A abominação faltou e você assumirá seu lugar. De nada valeu a sua vida. Pedaço de lixo. Derrame mais um pouco de sangue e dê aos velhos por que eles têm sede. Você agora está contra a parede e seus esforços de nada valeram. Você está deixando de existir, sua mãe não lhe quer mais. Foge criança, larga tudo e foge pra qualquer lugar do mundo. Os monstros estão vindo e falam sobre Adão e Eva.  Onde estão as suas lágrimas? Sua mãe está lhe matando e é ela quem esta chorando. Porque você não chora mais? Sua mãe está correndo atrás de você com uma caixinha de primeiros socorros. Ela não consegue ver que você esta bem agora. Porque não corta seu cabelo? Sua mãe pensa que você é uma mulherzinha, mas você não encaixa em seus estereótipos. Você precisa esquecer o resto do mundo. Eu ainda sou uma criança com medo. Feche a porta do seu quarto e aumente o volume do som. Nada lá fora pode te atingir agora, você está seguro. Você não precisa derramar mais sangue, por que a porta está fechada. Você não esta mais escutando nada, não há facas nem tochas e você está flutuando em seu quarto.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ato 01: Nossa comida foi envenenada

Me compra um desses lenços de bandido para eu amarrar no rosto. Ficou tarde demais pra você me amar. Estamos morrendo em campos de concentração, mas as pessoas não estão vendo. Não vou pintar camisas com tintas coloridas. Desligue a janela, não salte agora. O ato final é para poucos. Não conte a eles, não diga nada. Volte antes que se arrependa, pense nas mães. Mande ela se fuder. Desista da canção. Eu calcei meus sapatos. Vibre a cabeça, tire-a de seus ombros. Estou entrando em transe. Você não esta me vendo, Por que você não me vê? As nuvens estão fugindo para cá, estão sobre minha cabeça e agora eu as vejo descendo. Estou derretendo, alguém me ajude. Estou desmanchando e escorregando pelo chão do quarto. Sugado pelo ralo a caminho do esgoto. Os ratos são gigantes e o detergente azedo. Me compra um lenço desses de bandido para eu amarrar no rosto. O cheiro é insuportável. Você está me ouvindo? Estou indo para casa dos meus antepassados. Não vejo ninguém, não tem ninguém aqui. Vou comer papas no jantar. Onde estão as outras crianças? Estão mortas, elas não levantam. As crianças foram mortas em campos de concentração. Eu grito, mas quem responde é o eco da minha voz. Não tem ninguém no cemitério. O cemitério só tem mortos e eu. Os homens ficaram loucos. Eu não sei onde estou. Os vermes estão vindo, estão roendo toda a carne e eu estou em ossos. Alguém me ajude a sair daqui.