quarta-feira, 4 de abril de 2012

O tal do Hedonismo



Em celebração aos breves dias de férias que vivo dei partida ao consumo desenfreado de filmes que há muito acumulavam e acabei revendo Lá Mala Educación, de Almodóvar. Desta vez prestando mais atenção no texto me deparei com o termo hedonista e não demorou muito para que o colorido Google desse inicio as buscas.

Hedonismo. Palavra formada a partir do grego, hedonê, que significa prazer. O hedonismo é uma doutrina que defende que o prazer é o meio correto para atingir o objetivo supremo do homem, a saber, a felicidade; felicidade esta que tem como essência precisamente o prazer. A moral, para o hedonista, deve ser ordenada segundo o modelo que é dado pela busca do prazer, quer dizer, é considerado moral tudo aquilo que dê prazer e imoral tudo o que faça sofrer. Esta doutrina resulta da observação de que todos os seres buscam o prazer e tentam escapar ao sofrimento.”[1]

Claro que enchi os olhos com a filosofia hedonista e tive orgasmos múltiplos ao me deparar com alguns mandamentos no Blog Hedonismo Auto-Sustentável, tudo por finalmente encontrar uma fundamentação filosófica para minha ideologia e mais que isso descobrir que há muito sou um praticante da filosofia hedonista.

“Busque sua felicidade/Concentre-se em permanecer vivendo o presente/Trabalhe menos e realize mais/Não se leve tão a sério a ponto de desrespeitar-se/ Não se leve tão a sério ao ponto de desrespeitar o próximo/Crie o seu conforto/Olhe sempre que possível nos olhos daqueles que cruzarem o seu caminho/Banhe-se ao sol sempre que possível/Evite verdades absolutas/Relacionar-se profundamente com a natureza/Ria mais de qualquer coisa que lhe der vontade/Não tenha pressa/Desapegue-se dos valores distorcidos/Siga seus instintos/Preserve seus sentimentos e cultive os sentimentos do próximo/Relaxe e goze/Abandone a culpa”  [Blog Hedonismo Auto-Sustentável]

E vi outras vertentes não tão excitantes também com toda essa idolatria a aquisição de bens de consumo pelos olhos de Maria Lúcia de Arruda Aranha, em seu livro “Temas de Filosofia”, pensando o termo para as saciedades modernas.

Em um sentido bem genérico, podemos dizer que a civilização contemporânea é hedonista quando identifica a felicidade com a aquisição de bens de consumo: ter uma bela casa, carro, boas roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais(...).[Maria Lúcia de Arruda Aranha]

Fica evidente que a filosofia hedonista clássica, fundada por Aristipo, trás embutida em si um apelo pelo prazer carnal, mas Epicuro tratou de dar uma encaretada nessa corrente filosófica após uma avaliação moral e acabou afirmando que o prazer, para ser um bem, precisava de moderação e que os homens deveriam procurar os prazeres da mente, pois os prazeres do corpo causam, quase sempre, dores. Aqui prefiro ser tradicional e pontuo menos a corrente de Epicuro pelo lance da moderação, mas sem tirar sua razão.

O hedonismo moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número possível de pessoas. (...) A filosofia hedonista retêm da famosa frase socrática "conhece-te a ti próprio" uma lição de egocentrismo utilitário. Para os hedonistas conhecer-se a si próprio era definir o prazer e procurá-lo.”[Filosofia Hedonista]

Acho linda essa coisa de definir o prazer e procurá-lo, mas há uma pedra no meio do caminho: a igreja. Associar prazer a pecado é algo quase que automático, lê-se lavagem cerebral. Se livrar das amarras da igreja é uma das necessidades hedonistas, o "abandonar a culpa". O Manu Serafim, religioso fanático fundamentalista cristão, julga o hedonismo como "um intento para justificar a imoralidade" e completa depois: "seja qual for o movimento que lute pra dissolver ao valores humanos essenciais devem ser combatidos!". Sinceramente, não esperava menos. 

Segundo Michel Flocker “hedonismo é a doutrina que considera o prazer ou a felicidade como o único ou principal bem da vida.” você pode discordar, mas no fim sente o gosto da verdade nessa afirmação. Finalizo com Cazuza citando Neruda: “Não foi Neruda quem disse: feche os livros e vá viver? Pois fui!”

[1] hedonismo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-04-04].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$hedonismo>.