domingo, 19 de fevereiro de 2012

Casa Limpa (02)

Chegou e estive de repente feliz. No seu rosto trazia o meu sorriso e de vez em quando o levava consigo. Eu estava entregue, rendido e rasgado. Picotado em pedaços que se espalhavam e que o vento carregava pra sua casa. 

Pousávamos de namorados para os amigos e a família não queria nem saber, tolice isso de amor entre dois rapazes. Seus fios estavam sempre em alguma camisa amarrotada ou em algum lençol cúmplice nosso. Eu não acreditava e meu amor me dizia desencana, pessoas felizes existem e agora somos nós.

"E as estrelas ainda vão nos mostrar
Que o amor não é inviável
Num mundo inacreditável
Dois homens apaixonados" (Cazuza / Roberto Frejat)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Telefonema

Ainda aos vinte e já um moribundo, sentou a mesa no fim da tarde de domingo e tentou comer na esperança de consegui alguns passos sem sentir tontura ou mesmo tropeçar em suas pernas. O telefone toca e a refeição, que refeição? Era a mãe, só podia. Mãe sente. Mente e diz que vai procurar ajuda, desliga o telefone e chora. Por maior que tenha sido o tempo em que se dedicou a aceitar a idéia de que morreria jovem na prática estava sendo um tanto mais difícil, complicado. Tenta recompor-se, não quer que os vizinhos ouçam seu choro. Enxuga os olhos, depois os abri e encara a mesa molhada. Levanta. Pega um lenço. Ajoelha de fraqueza e depois deita no centro da sala. Não levanta. Os olhos fecham. O telefone toca, mas ninguém atende.