terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bilhete


Escreve um bilhete, uma coisa assim. Depois se arrepende, embola e joga no lixo. Mas por impulso, resgata e desamassa o bilhete. 

domingo, 27 de novembro de 2011

Estória de uma noite (04)


Ele não lembra ao certo em que esquina se conheceram, mas os faróis de Julia realmente deixavam seus olhos brilhando. Enquanto ela, sentada, vidrava os outros apartamentos procurando algo de imoral na janela de algum vizinho descuidado. O cigarro queimou seu dedo e Julia recobrou a si. Percebeu que estava sendo observada por Paulo, que pelo bolso da calça cutucava o membro enrijecido. Fez-se de boba e encenou uma falsa naturalidade que terminou os levando pra cama naquele fim de tarde de novembro. Ele gozou horrores e Julia, insaciável, voltou a olhar as janelas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estória de uma noite (03)


Talvez eu devesse ignorar que havia alguém lhe esperando do lado de fora. Deixar de lado o fato de ele ser mais alto, forte e sem duvidas muito mais atraente que eu. Um encontro inesperado e faz você virar a cara pro outro lado e desabafar. Que dia cu! O que você disse? Oi? Aconteceu algo? Nada não, apenas pensando alto Júlia. Eu te amo. Já conversamos sobre isso. Eu sei, mas pensei que algo podia ter mudado. Mas nada mudou continuo sendo um sádico e você uma vadia, o que tivemos foram apenas algumas esfregadas a mais em uns becos sujos, algo imundamente sexual. Imundamente sentimental pra mim, eu senti você e você me sentiu. Como nunca senti com ninguém. E então o que há de errado nisso? Não há nada de errado, esse é o erro. Você continua sendo um pervertido. E você me adora. É eu te adoro. Quem é o bonitão ali parado na esquina. Lindo ele, não acha? Uma beleza vai lá e ama. E o que eu digo? Diz umas sacanagens em seu ouvido, se não dormir com você, dorme comigo.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Com letra maiúscula


Ontem me irritei com uma coisa que li, achei de um fanatismo tão repulsivo a ponto de me fazer parar de girar e me perguntar o porquê que me incomodei tanto. Cinco minutos e parei de negar e me vi obrigado a admitir o quão religioso eu fui, eu sou - não quero ser. Já conheço a bíblia de cabo errado, digo de cabo a rabo. Eu li quase todas aquelas letrinhas, imaginei os monstros fantásticos do livro de apocalipse e cavalguei com os quatro cavaleiros. Imaginei Davi cuidando das ovelhinhas, e achei de um mau gosto só Jesus ter que acabar sendo preso numa cruz, mesmo com o spoiler da ressurreição no terceiro dia.

A certeza é que aos dezenove vejo a bíblia com muito menos brilho do que aos doze, quando mainha encontrou na igreja uma forma de me manter longe das drogas, do sexo e do rock in roll. Certa ou errada, eu realmente ainda não sei - mas sei que não funcionou por muito tempo. Sei que eu odiei tudo aquilo quando completei dezesseis, aos dezessete comecei a defender o direito de Judas no céu, aos dezoito ria enquanto o padre dizia a noiva no casamento como ela devia ser submissa ao seu marido (conforme a bíblia) e aos dezenove começo a questionar a existência de deus (com letra maiúscula). 

Tentei até virar ateu, mas apesar de todas minhas discordâncias com a bíblia sagrada (?) me recuso a desacreditar na existência de uma força ou conselho superior, seja divina ou alienígena. Acredito em algo que não sei ser o que a maioria chama de deus (novamente com letra maiúscula), e caso seja acredito que ele (com letra maiúscula, por fazer referencia ao deus com "d" maiúsculo) deve estar muito puto (com todo respeito) com as coisas que escreveram, fizeram e andam fazendo em seu nome. Amém.